sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ORIXAS / Yorimá




YORIMÁ: Esta Linha é conhecida também como Linha de São Cipriano no sincretismo, Linha das Almas, Linha dos Pretos-Velhos. A Vibração de Yorimá é a Potência da Palavra da Lei, Ordem Iluminada da Lei, Palavra Reinante da Lei. Esta Linha é composta dos primeiros espíritos que foram ordenados a combater o mal em todas as suas manifestações. Os Orixás são verdadeiros magos que usam da roupagem fluídica de Pretos-Velhos, ensinando as verdadeiras "mirongas" sem deturpações. São os Mestres da Magia e experientes devido as seculares encarnações. Esta Linha tem como Chefes Principais os Orixás Menores (de 1º Grau) Pai Guiné, Pai Tomé, Pai Arruda, Pai Congo de Aruanda, Mãe Maria Conga, Pai Benedito e Pai Joaquim.
Agradeço a " Climazem Consultoria@hotmail.com, pela foto maravilhosa, obrigado.






SAUDAÇÃO AOS PRETOS VELHOS:



O Navio Negreiro que me trouxe Veio lá da Nação de Nagô Atravessou os Sete Mares Na Terra Santa ele ancorou A chibata já não me rasga o couro Na Aruanda não tem Raça e não tem Cor Somos todos filhos de Olorum Sou Preto Velho da falange de Atotô Saravá Pai Arruda, Pai Joaquim e Pai Mané! Saravá Pai Benedito de Aruanda e também lá da Guiné Com a Vovó Chica, Mãe Cambinda e Maria Conga! Vem a Vovó Catarina e a Vovó Rita Para dos Filhos de Umbanda cortar todas as mirongas Saravá a Todos os Pretos Velhos da Aruanda Eu sou Preto Velho Eu sou curador Eu sou Preto Velho Da Lei de Nagô! Adorei as Almas!



Pretos Velhos Identificam-se pela sua origem africana como do Congo, de Angola, de Guiné, que dizem respeito a sua linha de trabalho e campo de atuação. Marcada pela presença do Negro na Umbanda, de forma nenhuma a religião poderia deixar de homenagear suas origens afro e também a raça que permitiu que muitos espíritos semeadores da nova religião pudessem encarnar no Brasil sem chamar muita atenção. A primeira manifestação relatada da Linha dos Pretos Velhos, é descrita na história de Pai Zélio de Moraes : no dia em que houve a manifestação do Sr. Caboclo das 7 Encruzilhadas, na casa que em seguida seria batizada de Nossa Sra. da Piedade, nesse mesmo dia houve a manifestação de Pai Antônio. O espírito do ex-escravo ali incorporado parecia sentir-se nada à vontade. Curvado, alquebrado, evitou ficar na mesa ali posta para as “-Nêgo num senta não, sinhô ... Nêgo fica aqui mermo... Isso é coisa de sinhô branco, i nêgo deve arrespeitá. Nêgo fica aqui nu toco, qui é o lugá di nêgo” Estava firmada ali, a presença do Preto Velho na Umbanda. E esse trejeito humilde, simples, honesto, sem pedir nada em troca, sempre em nome do Pai Criador, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, essa naturalidade cativa dia a dia os filhos de Umbanda e todos aqueles que procuram ajuda nos templos. E se em suas manifestações trazem plasmadas as formas de suas existências como escravos, saibam que essas falanges acolhem muitos e muitos espíritos afins com suas vibrações de Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Sabedoria e Vida, que não necessariamente foram escravos em suas existências anteriores. A naturalidade de um Preto Velho é indescritível. É algo que sentimos, e se de coração aberto estivermos para absorve-la como benção, então durará muito em nosso íntimo. Ao ver um Preto Velho em terra, pitando seu cachimbo, sentado em seu banquinho, não tenha vergonha, ajoelhe-se e peça sua benção. Com certeza ele está ali, em seu banquinho, baixinho perto do chão, para que segurando em nossas mãos clamem ao criador bênçãos de Paz, Saúde, Harmonia, Prosperidade e Fé, muita Fé!



É rei, é reiÉ rei no seu congá,É rei!..."
Assim diz um dos inúmeros pontos de chamada de Pretos Velhos na Umbanda, que é a forma religiosa mais representativa dos cultos afro no Brasil, contexto cultural em que se expressa com grande força, coberto de prestígio e de carinho este personagem tutelar aos ritos nacionais, reverenciado nas mais variadas formas, o Preto Velho. Religiosidade, sincretismo, etnicidade, subalternidade, seriam alguns dos conceitos que seriam necessários para se construir à altura o tema deste devaneio. Mas justamente porque o devanear não tem um compromisso com teorias ou análises estritamente orientadas (sendo justamente o seu contrário...), permito-me escrever esta peça tal como ela está. Sugiro no entanto que ela seja lida diante da intenção com que está sendo escrita, como algo que remete à prática umbandista "brasileira" e "afro" e sobre a construção que aí ocorre de um dos arquétipos brasileiros, o do Preto Velho. Para tal, passo a contextualizar este personagem que a Umbanda situa entre as entidades de luz, ou espíritos superiores em mérito, junto com outros tipos igualmente idealizados, como os "caboclos", os "mestres", os "orientais", as "crianças". São grupos de espíritos, de vibrações, de sintonias, de diferentes formas de relacionamento com o mundo dos vivos, por assim chamar o mundo dos "encarnados", que estão "na carne", que têm corpo, nós. Ao classificar a espiritualidade, o mundo dos espíritos em "linhas" ou "falanges", Falange dos Caboclos, Linha de Preto Velho, Linha do Oriente (também muito conhecida por "linha dos Ciganos"), a Umbanda expressa a sua ordenação do universo tendo como referencial os domínios da natureza e da civilização, num mundo marginal. A natureza é o reino dos Caboclos, representação idealizada do índio brasileiro, que por sua vez se subdivide em "falanges" (Caboclos de Pena, Caboclos Flecheiros, Caboclos, do Mel) todas elas comprometidas com a mata, com a água doce, com o mel silvestre, com a cura, a "ajuda" e sobretudo com a justiça feita com a proteção do Pai Oxóssi (senhor das matas que preside a Falange dos Caboclos) e suas flechas. No âmbito da civilização, juntamente com outras entidades como os "mestres", está a figura do Preto-Velho, o espírito nacionalmente reconhecido do ex-escravo africano como o tem construído o imaginário religioso brasileiro nos anos de escravatura e sobretudo após a abolição. Na verdade, a afetividade de que se recobre a relação dos Pretos Velhos com seus "filhos brancos" expressa nos rituais sincréticos, remete às relações semi-familiares que se estabeleciam nas casas-grandes e os seus escravos domésticos. Se não, vejamos, no ideário nacional (e na prática "real”,concreta naquele passado), a Mãe Preta se situa mansamente como um terceiro elemento na díade mãe-filho, surgindo aí relações muito fortes de carinho e solidariedade das três partes: da Sinhá, da escrava e do menino branco, que não raro na literatura romântica aparecem aliados em confronto com a vontade férrea e patriarcal do homem branco, senhor de terras, dono de mulheres, de escravos e de meninos. Eu diria ser este um substrato fundamental à re-criação e à reabsorção do escravo africano pela sociedade brasileira na Umbanda, mediante a construção do personagem do Preto Velho. Mesmo liberto, esse espírito continua vivendo no imaginário religioso de muitos brasileiros. Um desses modos de presença é a representação do ex-escravo negro que retoma a sua relação com a sociedade nacional, com os "filhos brancos" a cada sessão de Umbanda.
O Contexto:



As reuniões rituais ou "sessões" costumam ocorrer em espaços determinados, sejam partes de quintais (os "terreiros") ou aposentos domésticos que algumas famílias dedicam para esse fim. Ali se mantém um pequeno altar, o "congá", onde se encontram imagens de entidades e de alguns santos católicos como N.S. da Conceição, o Sagrado Coração de Jesus, Santa Bárbara, São Jorge, São Sebastião, e ainda figuras como o Padre Cícero do Juazeiro. Estes santos aí estão representando orixás africanos (Oxum, Iansã, Ogum, Oxóssi, Xangô), ao mesmo tempo que são invocados em mistura com a identidade católica que os recobre. É interessante observar a esta altura, uma das inversões simbólicas que ocorre com frequência no ritual: como no tempo em que estes rituais tomavam a forma de "batuques" nas senzalas, o santo "branco" encobre e de certo modo viabiliza o orixá negro, enquanto o espírito do escravo abriga uma alma generosa, mansa e "branca



No "congá" acendem-se as velas, coloca-se a água para a fluidificação que é feita pelas entidades no decorrer do ritual e que se bebe na saída, as flores , as plantas, as substâncias a que as diferentes "linhas" costumam se referir e utilizar nos rituais.A arruda e os cravos brancos para os Pretos-Velhos, a jurema e o mel para os caboclos, rosas, lenços de seda e às vezes vinho tinto para os ciganos, e assim por diante. Iniciando o culto, o grupo canta fazendo a "chamada das linhas" através de fórmulas, os "pontos de descida ou de chamada", em que os espíritos são exortados a se comunicar e os "pontos de subida ou de despedida" com que se reverenciam e despedem os espíritos, facilitando e sinalizando a incorporação dos espíritos nos médiuns e a comunicação entre os dois mundos.



O ordenamento dessa "chamada" varia muito de ambiente para ambiente, mas costuma-se abrir as sessões "chamando" um Preto Velho que não raro é o mentor do culto. Assim é que se "chama" a Linha dos Pretos que também recebe os nomes de "Linha dos Africanos", "Linha do Congo", etc.



Com o objetivo de ilustrar estas considerações, reproduzo alguns "pontos" que tomo como um discurso dirigido aos espíritos dos Pretos Velhos e que a eles se refere, atraindo-os, reconstruindo-os, reforçando a sua imagem idealizada, com forte conteúdo afetivo e emocional. O que se segue é um dos "pontos de chamada" bastante conhecido, em que se explicita a força dada por Oxalá, Deus, o Pai Superior, aos africanos aqui desencarnados nos troncos , pelourinhos e senzalas:
"Arruda tem luzTem poder e tem valorArruda tem forçaDo pai superior
É rei ,é reiÉ rei no seu congáÉ rei, é reiE vem para ajudar!"
Com fórmulas assim se invocam Pai João d'Angola, Pai Arruda, Pai Benedito, o Preto Velho do Menino Jesus e tantos outros "pais" e "avós" que são a representação dos ex-escravos nesta sua forma de permanência entre nós. É bastante comum que as entidades masculinas sejam chamadas de "pai" enquanto as Pretas Velhas são geralmente "vovós" que distribuem proteção, conforto moral, conselhos e receitas a quem os procura. Curiosamente nunca tomei conhecimento de que "vovós" fossem chamadas na abertura dos rituais, tendo elas no entanto também grande mérito e poder, em nada ficando a dever aos Pretos na hierarquia dos rituais e na procura das pessoas:
"É bonito e tem que verPau sêco florarÉ bonito e tem que verAs pretas velhas trabalhar!"



É grande a quantidade de "pontos" de que estes são representativos enquanto associação dos espíritos dos africanos às flores, à idade avançada, a humildade, generosidede e doçura no trato com os "filhos brancos" com quem interagem em termos de parentesco simbólico. Geralmente idosos, cegos, mutilados ou trêmulos, os espíritos incorporados nos médiuns ouvem queixas e pedidos dos "filhos brancos", dão conselhos, prometem a ajuda, força e preces, pedem paciência, fé e receitam chás de entrecascas, de perfume, arroz, arruda, cominho, cravo branco, comunicando-se num modo de falar também sujeito a variações mas fundamentalmente manso e o mesmo em todos os ambientes, repetindo-se sempre a frase "i zi gaci di Deus" ou simplesmente "gaci di Deus (graças a Deus):
"I zi fi zabancado i zi gaci di Deus picisá dus abanhado i ni xopana di fi"
para dizer que:
"O filho branco na graça de Deus vai precisar de uns banhos na casa do filho"



Ou ainda, no mesmo tom meigo e paternal,
“Gaci di Deus, o fi tuma us banho dos cravo e arruda machucadim, mai é picisi rezá pa saúde di i dá tomém us banho no galiba di fi, i zi gaci di Deus que significa:
“Na graça de Deus o filho toma os banhos de cravo com arruda machucadinhos mas é preciso rezar para a saúde e também dar banhos na criança do filho, nas graças de Deus



Vale ressaltar um detalhe significativo na relação do Preto Velho com os seus filhos (i zi fi) que poderia instigar a mais um estudo dos fenomenos simbólicos e relações que ocorrem no âmbito dos rituais de Umbanda. Mesmo que se trate de mestiços, morenos, mulatos, "pardos" e até mesmo de negros, uma vez em consulta com um Preto Velho todos são "filhos brancos" (i zi fi zabancado), não parecendo ser a expressão "branco" neste caso um referencial étnico mas antes outros construto que é o da nomeação pelas "linhas de Congo" dos seus "filhos brancos". No processo de ajuda, aconselhamento e consolo propiciado pelo contato com os Pretos Velhos, estes se apresentam (e são apresentados nos "pontos") cheios de mérito junto ao Pai Superior, a Jesus e à Virgem Maria, em grande medida pelos tormentos da sua vida de escravo na terra, uma espécie de resgate dos sofrimentos, mutilações, castigos e humilhações cujas marcas guardam na espiritualidade e que lhes foram inflingidos pela mesma sociedade a quem eles hoje vêm cuidar e consolar. São indicativos disso os "pontos de chamada" e de "despedida":
Pai Arruda vai baixarPros seus filhos ajudarCom a força de JesusEle vem pra trabalhar"
E no momento da despedida:
"Lá vai os Preto Velho Subindo pro céu E Nossa Senhora Cobrindo com o véu"



Nos "pontos de Preto Velho" há também referências à negritude e ao trabalho, como se pode ver a seguir:
Quem arreia na linha de Congo É de Congo, é de Congo, aruê! Quem arreia na linha de Congo Agora é que eu quero ver.
Preto com preto, Calunga, Eu também sou preto, Calunga, Na terra dos preto, Calunga,Todo mundo é preto, Calunga!"
E no "ponto de Preta Velha":
Vovó não quer Casca de côco no terreiro Vovó não quer, Casca de côco no terreiro Que é pra não lembrar.Dos tempo dos cativeiro. Que é pra não lembrar.Os tempo dos cativeiro"
A inversão simbólica dos valores da hierarquia prevalecente na ordem social brasileira é um dos fenômenos que mais caracterizam os cultos afro-brasileiros. Nestes contextos, o "menos" passa a ser "mais", os últimos são os primeiros e o subalterno adquire um poder que pode chamar-se mágico. No caso do Preto Velho, a via para essa "ascensão" que se realiza durante os rituais foi o sofrimento a ele imposto pela mesma sociedade que a ele hoje se filia e se ajoelha aos seus pés por proteção e ajuda, como tive oportunidade de dizer há pouco. Esse sofrimento o teria purificado e "tisnado" de branco, outorgando-lhe na Aruanda (a província espiritual e mítica para onde foram as almas dos escravos), a proximidade com Oxalá, o Pai Superior, como vemos no seguinte "ponto de chegada":
"Vovó vem conduzindo A toalha do seu Congá Ela vem enfeitada de rosas Trazendo a coroa do Pai OxaláTrazendo a coroa do Pai Oxalá".

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