sábado, 29 de março de 2008

MEDIUNIDADE/ VIDÊNCIA & CLARIVIDÊNCIA


Vidência & Clarividência:


Vidência-:


Segundo Allan Kardec, os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Há os que gozam dessa faculdade em estado normal, perfeitamente acordados, guardando lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico ou aproximado ao sonambulismo. Incluem-se na categoria de médiuns videntes todas as pessoas dotadas de dupla vista. A possibilidade de ver os Espíritos em sonho é também uma espécie de mediunidade, mas não constitui propriamente a mediunidade de vidência.
O médium vidente acredita ver pelos olhos, como os que têm dupla vista, mas na realidade é a alma que vê, e por essa razão eles tanto vêem com os olhos abertos ou fechados.
Devemos distinguir as aparições acidentais e espontâneas da faculdade propriamente dita de ver Espíritos. As primeiras ocorrem com mais freqüência no momento da morte de pessoas amadas ou conhecidas que vêm advertir-nos de sua passagem para o outro mundo. Há numerosos exemplos de casos dessa espécie, sem falar das ocorrências de visões durante o sono. De outras vezes são parentes ou amigos que, embora mortos há muito tempo, aparecem para nos avisar de um perigo, dar um conselho ou pedir ajuda - é sempre a execução de um serviço que ele não pôde fazer em vida ou o socorro das preces.
Essas aparições constituem fatos isolados, tendo um caráter individual e pessoal. Não constituem, pois, uma faculdade propriamente dita. A faculdade consiste na possibilidade, senão permanente, pelo menos freqüente, de ver os Espíritos que se aproximam, mesmo que estranhos. É esta faculdade que define o médium vidente.
Entre os médiuns videntes há os que vêem somente os Espíritos evocados, podendo descrevê-los com minuciosa exatidão. Conseguem descrevê-los nos menores detalhes dos seus gestos, da expressão fisionômica, os traços característicos do rosto, as roupas e até mesmo os sentimentos que revelam. Há outros que possuem a faculdade em sentido mais geral, vendo toda a população espírita do ambiente ir e, poder-se-ia dizer, entregue a seus afazeres.
Kardec, ainda em "O LIVRO DOS MÉDIUNS", relata o seguinte e singular episódio:
Assistimos, certa noite, à representação da ópera Óberon ao lado de um excelente médium vidente. Havia no salão grande número de lugares vazios, mas muitos estavam ocupados por Espíritos que pareciam escutar as suas conversas. No palco se passava outra cena; por trás dos atores muitos Espíritos joviais se divertiam em contracená-los, imitando-lhes os gestos de maneira grotesca. Outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores, esforçando-se por lhes dar mais energia. Um desses mantinha-se junto a uma das principais cantoras. Julgamos as suas intenções um tanto levianas e o evocamos após o baixar das cortinas. Atendeu-nos e reprovou o nosso julgamento temerário. - Não sou o que pensas - disse -sou o seu guia protetor; cabe-me dirigi-la. Após alguns minutos de conversação bastante séria, deixou-nos dizendo: -Adeus. Ela está no seu camarim e preciso velar por ela;
Evocamos depois o Espírito de Weber, autor da peça, e lhe perguntamos o que achava da representação. - Não foi muito má - respondeu -, mas fraca. Os atores cantam, eis tudo. Faltou inspiração. Espera - acrescentou - vou tentar insuflar-lhes um pouco do fogo sagrado! Vimo-lo, então, sobre o palco, palrando acima dos atores. Um eflúvio parecia se derramar dele para os intérpretes, espalhando-se sobre eles. Nesse momento verificou-se entre eles uma visível recrudescência da energia.
Kardec conta, em seguida, outro caso:
Assistíamos a uma representação teatral com outro médium vidente. Conversando com um Espírito espectador, disse-nos ele: - Estás vendo aquelas duas senhoras sozinhas num camarote de primeira? Pois bem, vou me esforçar para tirá-las do salão. Dito isso, dirigiu-se ao camarote das senhoras e começou a falar-lhes. Súbito as duas, que estavam muito atentas ao espetáculo, se entreolharam, parecendo consultar-se, e a seguir se foram, não voltando mais. O Espírito nos fez, então, um gesto gaiato, significando que cumprira a palavra. Mas não o pudemos rever para pedir-lhe maiores explicações.
Muitas vezes somos assim testemunhas (visuais) do papel que os Espíritos exercem entre os vivos. Observamo-los em diversos lugares de reunião: em bailes, concertos, sermões, funerais, núpcias etc., e em toda parte os encontramos atiçando as más paixões, insuflando a discórdia, excitando as rixas, motivando os apetites sexuais e rejubilando-se com suas proezas. Outros, pelo contrário, combatem essa influência perniciosa, mas só raramente são ouvidos... A faculdade de ver os Espíritos é uma dessas faculdades cujo desenvolvimento deve processar-se naturalmente, sem que se provoque.
Os médiuns videntes, finaliza Kardec, são raros e deve-se ter muitas razões para submetê-los ao crivo da observação. E prudente não lhes dar fé senão mediante provas positivas. Não nos referimos - sentencia Kardec - aos que alimentam a ridícula ilusão dos Espíritos-glóbulos.
A vidência propriamente dita independe dos olhos material, porque é uma visão anímica, a alma vê fora do corpo. É o que a Parapsicologia chama de percepção extrasensorial'. A dupla vista se manifesta sempre como um desdobramento da visão norma.
O exame de alguns efeitos óticos deram origem ao estranho sistema dos Espíritos-glóbulos. Esses efeitos óticos são considerados, por algumas pessoas, Espíritos. Afirmam que eles as acompanham: vão para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo, conforme elas movem a cabeça


Clarividência:


Fonte( Allan Kardec). Leon Denis (livro No Invisível)


Estávamos lendo o livro "No Invisível", de Léon Denis, em nosso grupo mediúnico, quando o texto nos remeteu a uma questão recorrente: afinal, qual é a diferença entre a faculdade dos médiuns videntes e a clarividência?
O presente trabalho é um esforço para responder a esta questão a partir de algumas premissas:
Os conceitos se acham ambientados dentro da obra de cada autor, e podem variar leve ou notadamente quando analisado em obras de autores diferentes, e até mesmo em livros diferentes do mesmo autor.
No estudo do Espiritismo precisamos conhecer bem a terminologia empregada pelos seus principais contribuintes, a começar de Allan Kardec e dos clássicos, a fim de não confundirmos seu emprego.
O termo clarividência não foi criado por Kardec, embora tenha sido redefinido pelo codificador diante dos estudos dos fenômenos espirituais. Isto nos obriga a conhecer os significados que se encontram em teorias não espíritas, especialmente as que antecederam o Espiritismo e influenciaram o codificador.
Este artigo é um excerto de um trabalho maior que publicaremos ainda este ano, nos anais de nosso grupo de estudos, mas estamos enviando a parte referente a Allan Kardec ao GEAE em função da pergunta que o leitor Néventon Vargas publicou no boletim número
318.
2. Definição e Fenômenos de Clarividência
O termo clarividência surge pela primeira vez com seu sentido próprio na parte de
"O Livro dos Espíritos" que trata da emancipação da alma. Na questão 402, Kardec trata de uma "espécie de clarividência" que acontece durante os sonhos, onde a alma tem a faculdade de perceber eventos que acontecem em outros lugares. Neste ponto, portanto, ele emprega o termo como uma faculdade de ver à distância sem o emprego dos olhos. Os sonâmbulos seriam capazes deste fenômeno devido à faculdade de afastamento da alma de seu respectivo corpo seguida da possibilidade de locomoção da mesma. (q. 432)
Pouco depois, na questão 428, ele indaga aos espíritos sobre a
"clarividência sonambúlica". Ele certamente se refere à faculdade já bastante descrita na literatura que trata do sonambulismo magnético, que, na questão 426, os espíritos consideraram equivalente ao sonambulismo natural, com a diferença de ter sido provocado. Os espíritos lhe respondem que as duas faculdades possuem uma mesma causa: a percepção visual é realizada diretamente pela alma do clarividente. Logo a seguir, Kardec pergunta sobre os outros fenômenos da clarividência sonambúlica (q. 429) como a visão através dos corpos opacos e a transposição dos sentidos. Os espíritos reafirmam que os clarividentes vêem afastados de seus corpos, e que a impressão que afirmam de estarem "vendo" por alguma parte do corpo, reside na crença que possuem que precisam deste para perceberem os objetos. A existência da faculdade sonambúlica não assegura a veracidade de todas as informações obtidas neste estado, com o que concordam os espíritos (q. 430).
Dando continuidade à linha de indagações sobre o sonambulismo, Kardec pergunta de onde se originam os conhecimentos apresentados pelos sonâmbulos que eles não possuem em estado de vigília e que não se explicam diretamente pela percepção sonambúlica. Os espíritos argumentam que em estado de emancipação, os sonâmbulos podem acessar conhecimentos que lhes são próprios, originários de existências anteriores, ou de outros espíritos com quem comunicam-se (q. 431). Faz sentido, então, questionar se todos os sonâmbulos são médiuns sonambúlicos, distinção esta que Kardec aprofundará em
"O Livro dos Médiuns". Ainda em "O Livro dos Espíritos", afirma-se que a maioria dos sonâmbulos vê os espíritos, mas que muitos deles podem crer que se trate de pessoas encarnadas, por lhes ser estranha a idéia de seres espirituais.
3. Êxtase e Clarividência
Kardec distingue os fenômenos sonambúlicos do
êxtase e da dupla vista. O êxtase seria um sonambulismo profundo. Neste estado ocorreria o contato com espíritos etéreos, o que causa as impressões geralmente registradas pelos santos. Na questão 455 encontra-se a seguinte descrição:
"Cerca-o então resplendente e desusado fulgor, inebriam-no harmonias que na Terra se desconhecem, indefinível bem-estar o invade: goza antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que pousa um pé no limiar da eternidade. No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão. Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial "
Kardec, entretanto, admite que muitas vezes o extático é vítima da sua própria excitação, fazendo descrições pouco exatas e pouco verossímeis, podendo chegar a ser dominados por espíritos inferiores que se aproveitam da sua condição.
Êxtase, portanto, é um estado sonambúlico profundo caracterizado pela perda ou extrema redução da consciência dos eventos que acontecem ao redor do extático, alterações emocionais e um certo sentimento de "sagrado", onde o mecanismo básico é a emancipação da alma.
4. Lucidez e Clarividência
No livro "Definições Espíritas", Kardec define a clarividência como a "faculdade de ver sem o concurso da visão" e logo depois como "percepção sem o concurso dos sentidos". Posteriormente Kardec distingue clarividência de lucidez, da seguinte forma:
"A palavra clarividência é mais genérica; lucidez se diz mais particularmente da clarividência sonambúlica." (KARDEC, 1997. p. 85)
5. Dupla Vista e Clarividência
A
dupla vista, ao contrário, seria a faculdade de perceber pelos olhos da alma, sem que para tal, seja necessário o estado sonambúlico, em outros termos, sem que o percipiente entre em transe profundo.
A dupla vista seria uma faculdade permanente das pessoas que a possuem, embora não estejam continuamente em exercício da mesma. (q. 448) É uma faculdade que se manifesta de forma espontânea, embora a vontade de quem a possui tenha um papel em seu mecanismo e possa desenvolver-se com o exercício. Da mesma forma que a mediunidade, há organismos que são refratários a esta faculdade, e a hereditariedade parece desempenhar algum papel na transmissão da mesma. Kardec fez uma descrição das alterações psicofísicas que o portador da dupla vista ou segunda vista costuma apresentar (q. 455):
"No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão persistir, mau grado à oclusão dos olhos. Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos temos de ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada lhes parecem excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer, como a de um sonho. O poder da vista dupla varia, indo desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes."
Kardec, em suas "Obras Póstumas" (1978, p. 101) faz uma afirmação preciosa para a distinção entre dupla vista e clarividência, que consideramos por bem transcrever:
"No sonamabulismo, a clarividência deriva da mesma causa; a diferença está em que, nesse estado, ela é isolada, independe da vista corporal, ao passo que é simultânea nos que dessa faculdade são dotados em estado de vigília."
É importante frisar que em Kardec o sonambulismo natural, o sonambulismo provocado ou magnético, o êxtase e a dupla vista são faculdades que possuem o mesmo mecanismo: a emancipação da alma. A clarividência seria um fenômeno passível de ocorrer nos dois primeiros estados. Embora a clarividência seja um fenômeno predominantemente anímico, há a possibilidade de ocorrerem percepções do mundo dos espíritos, ou seja, de sua associação com faculdades mediúnicas. Para evitar confusão, consideramos adequado o emprego do termo clarividência mediúnica.
6. Médiuns Videntes e Dupla Vista
Em "O livro dos médiuns" (parágrafo 167), Kardec considera como médiuns videntes as pessoas dotadas da capacidade de ver os espíritos. Nesta categoria temos os médiuns capazes de ver os espíritos em estado de vigília e os que apenas a possuem em estado sonambúlico ou próximo deste. A faculdade não é permanente, estando quase sempre associada a uma crise passageira. Podemos substituir o termo crise por transe, entendendo que por crise passageira o autor se refere aos chamados estados sub-hipnoidais ou de transe superficial.
As pessoas dotadas de dupla-vista podem ser consideradas médiuns videntes, as que percebem os espíritos durante os sonhos, não. As aparições acidentais e espontâneas não configuram a existência desta faculdade, que permite ver qualquer espírito que se apresente. Kardec afirma que este tipo de médiuns julga ver os espíritos com os olhos, mas tanto os vêem com olhos fechados quanto com olhos abertos.
A faculdade pode ser desenvolvida, mas Kardec recomenda que não se provoque este tipo de faculdade, para que o suposto médium não se torne joguete da sua imaginação. Ele considera prudente não dar crédito senão ante provas positivas, como " a exatidão no retratar Espíritos que o médium jamais conheceu quando encamados". Ao advogar a possibilidade de desenvolvimento da faculdade, entendemos que Kardec se refere às pessoas já dotadas da mesma, e não da errônea idéia de desenvolvimento da mediunidade em quem quer que seja.
7. Médiuns Sonambúlicos e Clarividência
Curiosamente, Allan Kardec distingue em duas classes de médiuns os médiuns videntes e os médiuns sonambúlicos. Ele justifica esta classificação dizendo que sonambulismo e mediunidade são "duas ordens de fenômenos que freqüentemente se acham reunidos". (parágrafo 172)
...o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos vêem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes.
8. Conclusões: Vidência e Clarividência em Allan Kardec
Com as informações até então encontradas, concluímos que a distinção entre vidência e clarividência na obra de Allan Kardec pode ser explicada a partir do esquema abaixo:
Estado de Consciência
Transe Profundo (estado sonambúlico e de êxtase, em terminologia kardequiana)
Transe Superficial (crise passageira, em terminologia kardequiana)
Fenômenos Anímicos
Clarividência sonambúlica ou lucidez
Dupla vista
Fenômenos Mediúnicos
Clarividência mediúnica
Vidência mediúnica
Mecanismo Geral
Emancipação da alma
Emancipação da alma
Concluímos, portanto, que a chave da distinção entre a clarividência e a vidência mediúnicas, encontrada na obra kardequiana, reside na extensão do transe mediúnico.
O leitor da obra de Kardec deve cuidar-se também para não confundir clarividência com mediunidade, uma vez que ele emprega o termo em sentido amplo, podendo referir-se a fenômenos anímicos como a visão à distância sem o emprego dos olhos, visão através de corpos opacos e "transposição de sentidos" (que seria uma impressão do sonâmbulo, e não uma descrição do mecanismo do fenômeno, que é, em última ordem, a emancipação da alma).

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