Fonte( Matta e Silva).
Umbanda Esotérica, obra do Mestre Matta e Silva.
Registrada na cidade de São Paulo por ordem expressa de Mestre Yapacani regressou, posteriormente, à cidade do Rio de Janeiro com a participação de Mestre Yassuamy, sendo uma associação filo-religiosa não comercial, não proselitista, assistencial gratuita e a finalidade de seu Círculo de Estudos Umbandísticos é pesquisar, coletar, estudar, analisar e divulgar as relações esotéricas universais contidas na tradição oral e nas práticas religiosas da Umbanda, Candomblé e Vodun, mas sem rejeitar o estudo de outros fenômenos esotéricos de qualquer origem, estando assim aberto à participação de qualquer espiritualista que queira colaborar para o maior conhecimento e divulgação das mais diversas formas de manifestação da Espiritualidade. Assim, não nos importa o rótulo usado para definir os agentes ou pacientes dessas Variações Esotéricas: Umbanda, Omolocô, Umbanda Esotérica, Nação, Candomblé, Vodun, Malê, Santería, Candomblé de Caboclo, Toré, Babassuê, Xangô do Nordeste, Tambor de Mina ou, então, Abaçá, Tenda, Centro Espírita, Terreiro, Ilê Axé, Varandão, Ordem Iniciática, Casa de Oração. Para nós, todos eles são apenas expressões diversificadas para designar uma única e mesma realidade: a Espiritualidade em ação redentora na sociedade brasileira. E é esse conceito esotérico eclético que, desde o começo, buscávamos expressar ao adotarmos o Círculo Cruzado, abrangente em todos os seus quadrantes, como símbolo de nossa Ordem Iniciática. Assim, para divulgar os resultados desta busca de ecletismo, oferecemos ao público esta Home Page, na qual se encontrará assuntos os mais variados sobre o Esoterismo na Umbanda. O assunto é longo e desta forma, saudamos, antecipadamente, aos nossos leitores por sua persistência e paciência na leitura desta HP, pedindo-lhes que não se surpreendam por verem uma organização umbandista navegando na Internet, pois que a Umbanda é evolutiva e foi de estudo em estudo que seus Mestres compreenderam que deviam abandonar as técnicas de comunicação advindas da Idade Média e utilizarem-se da mais nova forma de Magia moderna: a Informática, a qual, metaforicamente, tem um paralelo esotérico com o Espelho Mágico, do qual dizia-se ser capaz de refletir em sua superfície, toda a gama das cores do conhecimento humano. Decorre dessa evolução a existência desta Home Page que deseja sensibilizar a "intelligentzia" brasileira, mormente àquela que estuda os cultos religiosos brasileiros de origem afro-ameríndia, para a importância e pioneirismo de se abrir um espaço cibernético à divulgação dos conceitos religiosos que são professados por muitos milhões de brasileiros, mormente pelos descendentes dos espoliados de suas raízes raciais, os quais precisam e querem reencontrá-las. Origens:
A Tenda de Umbanda Oriental - (T.U.O.) tem sua memória coletiva tri-partida: uma primeira parte, a inicial, está contada pelo próprio W. W. da Matta e Silva em alguns de seus livros; outra segunda parte, muito mais recente, vai ensaiada nos livros dos Mestres Arapiaga e Hanamatan, enfocada sob o prisma pessoal de cada um deles. Mas, existe uma terceira parte, mais antiga e intermediária, ainda de todo não escrita e que se refere a real participação de familiares e "filhos-de-fé" de Mestre Yapacani que eu conheci e, também, as de outros anteriores seus amigos com os quais não mantive convivência e cuja relevância desconheço ou me escapa da memória, mas que o próprio Mestre afirmou-me que houveram. E é para que não mais se me escape da memória, o real valor dessas contribuições prestadas ao Mestre Yapacani, sobretudo nos anos em que ainda não haviam chegado o prestígio e o poder, que eu resolvo agora prestar este meu claro e firme depoimento, em virtude de ser eu - Itaoman - o mais antigo Mestre de Iniciação da T.U.O. e, também, um dos fundadores da Primeira Ordem Iniciática do Esoterismo de Umbanda (1968) - Ordem do Círculo Cruzado - que emergiu dos Ensinamentos Esotéricos propostos por Mestre Yapacani. Assim, é por faltar tal tipo de depoimento dos fundadores da T.U.O que, hoje em dia, a parte mais antiga desta história somente poderia ser parcialmente contada por Dona Carolina da Silva, a primeira esposa de Matta e Silva, por ele mesmo citada em seu livro - "Umbanda de Todos Nós" - como "testemunha silenciosa". Na página dedicatória deste livro, verdadeira vertente original da codificação da Umbanda Esotérica do Brasil, ele próprio diz: -"Dedico esta página à Carolina - esposa, amiga e irmã dentro desta mesma Umbanda. Assim afirmo, porque tu fostes e és a testemunha silenciosa da luta tremenda que tive de manter, por causa deste livro - e do outro mundo, também - com o baixo mundo, encarnado e desencarnado."- Desta forma, como afirmei antes, a história da T.U.O. está intimamente ligada à dos seus protagonistas e, por isso mesmo, prefiro considerar como data referencial de sua fundação, não a data temporal, mas sim o fato místico relatado pelo próprio Matta e Silva à página 14 de sua sétima obra "Umbanda e o Poder da Mediunidade": -"Sempre tive uma tendência irrefreável, desde muito jovem, 16, 17 anos de idade, que me impulsionava a ver as chamadas "macumbas cariocas". Claro está que não estava ainda conscientizado do "porquê" de semelhantes impulsos (se bem que, desde 9 anos de idade eramos acometidos por fenômenos de ordem espírito-mediúnicos e aos 16 anos já acontecia a manifestação espontânea de nosso "preto-velho", que baixava num quarto onde morávamos, na rua do Costa, nº 75) ..."- Como Matta e Silva nasceu em 1917, a minha referência para a fundação mística da T.U.O. passa a ser, portanto, o ano de 1933! Mas, em algum lugar e com alguém, deve existir a documentação civil da fundação desta T.U.O. da qual não participei, porque mesmo este extraordinário Mestre Yapacani (Matta e Silva) não podia fazer tudo sozinho: ele teve muitos companheiros nessa empreitada, dos quais nomeia quatorze na 2ª edição de seu livro "Umbanda de Todos Nós": Cícero Faria Castro, Clara Landesman, Ernestina Magalhães Corrêa, Ery Carvalho de Miranda, Geraldo Dias Carneiro, Ivone Pereira, José Campos Filho, João Antônio Pereira, Jessé Nascimento, Manoel Rodrigues da Silva, Maria Soares Cortes, Nelson Ribeiro, Sebastião Fernandes Corrêa, Wanda Alves Ribeiro. Dentre estes nomes, referentes à esta 1ª etapa, ressaltarei os de Wanda, Nelson e Cícero que permaneceram ao seu lado, mesmo depois que, por ordens do Astral Superior, Matta e Silva dispensou a todos os companheiros de suas obrigações para com ele, como se lê na página 7 do referido livro: -"Nelson, Wanda : Vocês, meus Irmãos, foram valentes e diretas testemunhas de minha prova crucial. Vocês, meus amigos, foram intrépidos auxiliares na tremenda luta que mantive, quase contra tudo e contra todos."- Sim, "quase" contra tudo, pois do Astral Superior, em hora e data por ele próprio precisada, em seu socorro Pai Guiné "desceu na Gira de Umbanda" pela primeira vez para auxiliar o anterior Guia Espiritual, Pai Cândido: -"Meus irmãos espirituais ... jamais esqueceremos o dia dois de abril de 1958 as 14,15 hs, hein? Como um pito e três fumaradas trouxe o velho G.... hein Wanda ... lembras? Como a "coisa" pegou fogo, daí em diante. Assim, dedico-lhes esta página, para que saibam que jamais esqueci um só minuto, a nossa passada e presente amizade, da qual, deram provas em carinho e dedicação, durante o tempo que privamos, testemunhando juntos ... naquela luta de março a junho de 1958 ..."- Outra vez, sim, "quase" contra todos, pois em seu auxílio também acorreram nomes respeitáveis do Movimento Umbandista à época, tais como o Capitão Benedito Lauro do Nascimento (Diretor da Tenda Espírita Estrela do Mar); Nelson Machado (Diretor da Tenda Pai Tibiriçá e Caboclo Sete Estrelas do Mar); Capitão José Alvares Pessoa (Presidente e Diretor de Doutrina da Tenda São Jerônimo). E aí o Mestre pode, como ele próprio disse, "cruzar suas armas" e recuperar-se da luta astral e física que lhe custara a publicação do livro "Umbanda de Todos Nós", à sua própria expensa, em 1956, para então terminar com as suas próprias mãos e mais as de sua esposa, a casa simples da rua Boa Vista nº 157, no Bairro Brasilinha, em Itacuruçá-RJ, aonde, no último pequeno aposento dos fundos, plantou o Axé da 2ª etapa da T.U.O., firmado numa "Otá" (pedra alongada de cachoeira), fincada à meia altura da parede, sobre a qual repousava a estátua de São Miguel, tão pequeno era o espaço físico disponível naquele aposento que se abria para a imensidão do Astral Superior e para a Ancestralidade da Umbanda! E, em 1960, com a 2ª edição daquele livro, agora lançado por aquela que se tornaria a sua editora permanente, a Freitas Bastos, Matta e Silva pode dizer, no prefácio, aos seus "filhos-de-fé": -"E, se algum dia, necessitarem de sua palavra para assuntos de alta relevância espiritual, podem procurar este velho irmão - seu "aparelho", que ainda tem seu "congá" e a sua presença ... "-
Não demonstre tanta surpresa assim, meu irmão leitor que não viveu aqueles tempos e que pensa conhecer um pouco desta história. À época, ainda se orava a São Miguel e não a Mikael, o Arcanjo. Também lamento, não poder aqui mostrar fotos do "terreirinho" dessa época que eu ainda conheci: elas existem, mas foram parar às mãos de um outro Irmão-de-Fé, após o desencarne de Matta e Silva! Por último, mas não menos importante, nesta época ainda se "batia" um pouquinho de "atabaque", vez por outra, coisa pouca! Pois eu cheguei às portas da T.U.O., naquele então "fim-de-mundo" da Baixada Fluminense, no auge do verão de 1963, muito acalorado e empoeirado, pois a estrada ainda era de saibro batido e a única alternativa, o trem, nem sempre trafegava uma vez por dia. Profundamente angustiado, trazia como única bagagem espiritual a leitura dos livros de Matta e Silva e as estranhas manifestações expontâneas de um Preto-Velho, as quais eu não compreendia, não gostava e, ainda mais, eu temia! Primeira decepção e primeira alegria: Matta e Silva não estava e recebeu-me sua esposa, Dona Loló, como aprendi a chamá-la depois de melhor conhecê-la e à sua bondade e alegria de viver. Vendo-me decepcionado pela ausência de quem eu procurava, caridosamente ela insistiu comigo (um estranho mal vestido, empoeirado e angustiado) para que não fosse embora e entrasse no pátio de sua casa para esperar a volta de seu marido, servindo-me, de sua pequena cozinha, água fresca (ah! era a primeira vez que eu bebia a água que vinha de nossa cachoeira sagrada), café, bom humor e muita esperança, desta forma agindo como uma autêntica "Mãe" para um novo "filho" que ali chegava pela primeira vez. E foi assim que sempre eu a considerei ... ... Depois, conheci Matta e Silva e na primeira vez em que falei com Pai Guiné ainda no pequenino Terreiro da 2ª etapa do TUO, ao começarmos a falar, o canto de um galo soou ao longe e ele apenas sorriu. Não me perguntou de onde eu vinha, nem que religião eu professava ou o que eu ali esperava encontrar. Sempre interrompido pelos sucessivos cantares do galo, cada vez mais perto, perguntou-me apenas se eu estava agora disposto a enfrentar meus próprios erros para corrigí-los, enquanto o galo, já agora bem na soleira da porta, cantava pela sétima e última vez. Sim, houve testemunha desse fato (lembra-se, meu amigo Roberto "Gordo" ?) e o cantar do galo foi gravado por ela, mas esta fita, muito antiga e que o próprio Matta guardava com carinho, também sumiu ... ... Não me lembro das palavras com que dei meu consentimento, mas sei bem que, apesar de homem feito, eu chorei e muito! E esse foi o começo da cura dos males que me afligiam, pois era a primeira vez que alguém me fazia confrontar a máxima esotérica :-"Conhece-te a ti mesmo". Foi a primeira vez, também, em que ouvi um Preto-Velho, no mesmo momento, compor e cantar uma canção, um Ponto-de Raiz, o qual nunca mais esqueci:
-"Deu meia-noite e o galo canta, Oi, na Aruanda e no Terreiro. Dizem a Umbanda tem mironga, tem mironga E Pai Guiné é feitiçeiro. Canta e canta, "minha" galo, que a folha da Jurema ainda não caiu!"-
Permaneci ao lado do Mestre de 1963 à 1988, não só beneficiando-me de seus ensinamentos e aprendendo a Antiga Sabedoria dos Povos, bem como conhecendo seu lado humano e familiar: era um homem inteligente, caridoso e bom, de hábitos simples, bom pai de família, canhestro na cobrança da Lei de Salva e com um peculiar senso de humor nordestino que só se manifestava entre amigos. Tornei-me em seu discípulo, colaborador, divulgador e amigo. E atesta sua grandeza de alma o fato de que por duas vezes, nesses 25 anos de íntima convivência, ele tenha permitido que eu me "licenciasse" temporariamente de seu convívio por discordar de algumas de suas opiniões particulares e atitudes não-doutrinárias, bem como tenha me perdoado todas as vezes em que, por não compreender bem suas lições, discuti suas ordens e demorei em cumprir as instruções delas decorrentes. Sim, também aprendi que a "sombra" do Mestre pode ser muito pesada para um discípulo fiel, mas de mente aberta e inquisitiva! Hoje compreendo que aquelas provocações eram sua forma de preparar-me para a responsabilidade e a solidão de um Mestrado que eu, à época, pensava ser composto apenas de poder e prestígio: ele queria formar discípulos conscientes de seus livres arbítrios e não autômatos bitolados e serviçais! E embora eu não tenha sido um "trabalhador da undécima-hora", também não fui dos primeiros a lá chegar. Já no ano de 1963, lá encontrei muitos dos que me honraram com a Irmandade da Fé: Sílvio, Manoel Sardinha, Gerson, Oswaldo, José Vieira, Eduardo Costa Manso já estavam ou haviam estado junto ao Mestre. É verdade que alguns deles não tinham a compreensão da verdadeira importância de Mestre Yapacani dentro do Movimento Umbandista, mas todos tinham pleno conhecimento da bondade e da caridade daquele homem que sempre tinha uma palavra de conforto para atender à uma multidão de desamparados sociais da região, com seu conhecimento das profundezas da alma humana e do poder curativo das ervas. Desta forma, como eu mesmo, eles não viam a T.U.O. como uma "Escola Iniciática" e sim como um "Pronto-Socorro Espiritual" para os aflitos, os desesperançados e os doentes.
Assim, talvez apenas porque fosse a hora certa, eu estava presente e fui um dos rateantes da quantia com que se adquiriu o terreno baldio contíguo à sua simples residência-santuário e rapidamente se levantou o novo espaço da 3ª etapa da T.U.O., o pequeno templo independente que a maior parte dos "filhos-de-fé" posteriores freqüentou entre 1967 e 1988 e, sobre o qual, hoje tanto se fala. E fui eu que nele plantou a muda da árvore Cajazeira para o Orixá Ogum e tive o prazer de vê-la crescer entre baforadas de fumo do cachimbo de "meu" Preto Velho Pai Vicente de Angola que, agora, eu não mais temia:
"A fumaça do cachimbo do vovô paira no ar, só não vê quem não quer! Preto velho trabalha com fé! A mandinga do velho é debaixo do pé!"
Ah! Sim. Eu ainda não era um "makrom", mas já havia aprendido alguns "Pontos Cantados de Raiz" e começava a aprender os "Símbolos Sagrados" da Umbanda.
E, por estar ali, naquela hora, tive a felicidade de ser aquele que recebeu do Caboclo Juremá as instruções para a feitura do novo Congá, o qual ajudei a instalar, físicamente, tijolo por tijolo, e, astralmente, pintando "Pontos de Pemba" em ritual próprio, cujas réplicas hoje estão instaladas nos "Centros" de todo o Brasil que seguem ou dizem seguir a Linha Ritualística da T.U.O.. E foi Pai Guiné, incorporado em Matta e Silva, naquele ritual, quem me autorizou a "sobre-riscar" seu Ponto de Pemba, que era visível a todos sobre o Congá e do qual, muitas vezes ao longo dos anos, reavivei com Pemba Consagrada os "riscos" que se desgastavam com o tempo e uso público em muitos rituais e consagrações. E essa honra não era só minha: também a tinha meu Irmão de Santo e Mestrado Yassumy (Mario Tomar) e, quiçá, alguns outros que já me criticaram por não guardá-lo só para "nós". Mas é que eu assisti Mestre Yapacani autorizar, (da mesma forma que a mim quando fundei o primeiro Terreiro da Linha da T.U.O. em São Paulo, juntamente com José Vieira e Eduardo Costa Manso), a outros "Filhos-de-Fé" copiarem-no e usarem-no em seus Terreiros como símbolo de suas filiações espirituais à Raiz de Pai Guiné no Santuário de Umbanda Esotérica de Itacuruçá. Por isso, sempre dei de graça aquilo que de graça recebi. E, naqueles tempos, não se usava pedir a um Mestre algum papel que comprovasse filiação, tal como se faz numa transação comercial. Este Ponto de Pemba, riscado por Pai Guiné após sua primeira incorporação ("às 14 :15 horas do dia 02 de abril de 1958", segundo as próprias palavras de Matta e Silva), foi, é e sempre será o símbolo astral que reflete, por si próprio, a ligação espiritual que um Mestre da Raiz de Pai Guiné, ou qualquer outro seu "Filho-de-Fé", pode fazer sincera, direta e livremente com o Astral Superior sem interferência de qualquer "Pai-de-Santo", porque esta solene ligação é feita no único templo verdadeiro que existe: o coração de cada um de nós (lê-se exatamente isso em Matta e Silva). Portanto, tal Ponto nunca foi, não é e nunca poderá ser propriedade exclusiva de ninguém, seja qual for o grau que esse "ninguém" mereça, ostente ou atribua-se. E, justamente, por ser de visão pública e para refletir sobre todos os Filhos de Pai Guiné, tenho certeza, ele não foi um dos objetos escolhidos acompanhar o Mestre por quem fez seu Axéxé. E por último, mas não menos importante, sua irradiação astral será sempre atuante e exclusivamente benéfica, pois foi "riscado" por uma Entidade de Luz do Astral Superior em Missão Sacrificial. E nenhuma Entidade de Luz castiga seus "Filhos-de-Fé", mesmo que eles sejam transgressores, transviados ou mesmo ofensores: isto é atribuição do Imole Esu e este é um dos motivos por que esta última Entidade Astral é um Imole e não um Orisa, mesmo que se o considere como "telúrico".
E, para minha melhor recordação desse tempo, coube a mim guardar para sempre aquela "Ota" da Cachoeira Sagrada do antigo "Terreirinho", sobre a qual repousou a estátua de São Miguel, o Arcanjo e em contacto com a qual, nos tempos difíceis, muitos Filhos-de-Fé "bateram suas cabeças", nisso encontrando alívio, perdão e renovada força, enfim, o Ase da Corrente Espiritual das Santas Almas do Cruzeiro Divino. E, esta, foi a única "herança" do Santuário de Umbanda Esotérica de Itacuruçá que pedi a meu Mestre (além de seu Aguiri da Costa que ele me destinou e que nunca me entregaram), após longos anos de aprendizado, obediência, convivência e companheirismo em lutas astrais. Nenhuma mais desejo possuir, muito menos as "botinas" do Mestre! Sim, pode ser que sejam recordações saudosistas da T.U.O., uma Época de Ouro da Umbanda Esotérica com que eu fui agraciado por Deus em conviver, mas também são o atestado público de um Mestrado que dispensa qualquer documentação civil. Mas, quem gostar de "documentos" que leia a Carta de Matta e Silva de 1968 que está no tópico Ordem Iniciática deste Site. Nesse meio tempo, a obra religiosa do Mestre aumentava e com a divulgação de seus outros livros (nove, ao todo), muitos foram os Umbandistas que para lá começaram afluir. Também os Chefes de Terreiro de várias partes do Brasil, no decorrer dos anos subseqüentes, lá foram procurar ajuda e/ou em busca de uma filiação espiritual que legitimasse a sua anterior formação expontânea. E, agora, muitos deles, apesar de terem estado com nosso Mestre apenas um curto período de tempo, aparecem solenemente portando grandes espadas e Pontos de Pemba elaboradíssimos em pedaços de tábuas, falando com muita intimidade sobre Woodrow Wilson da Matta e Silva, dizendo aos quatro ventos: -"Eu sou um Mestre da Raiz de Guiné!"-
Mas, só em se reunindo todos os depoimentos autênticos acharemos a verdade e ajudaremos a compor um nítido mosaico de um momento histórico da Umbanda Esotérica que poderá vir a ser, com o trabalho dos Mestres vindouros, o grande "vitraux" esotérico da Corrente Astral do Aum Bhan Dan para filtrar somente a mais pura Luz Espiritual sobre esta antiga Terra de Pindorama.
Em verdade, poucos foram os que ficaram, estudaram, aprenderam e realmente foram consagrados por Mestre Yapacani, tornando-se Irmãos-de-Santo e queridos do coração dos humildes que eram a verdadeira razão da TUO existir. Entre eles, lembro-me de citar, em ordem cronológica: - Mestre Yassuamy (Mário Tomar), meu Irmão de Coração e verdadeiro amigo, um dos fundadores da Ordem do Círculo Cruzado e que foi mais que um filho carnal poderia ter sido, secundando o Mestre quando a sua visão física começou a embaciar. - Outros Iniciados e Discípulos mais antigos: Professor Rodrigues, Tatá Mironga, Lourdes, Aline, Mirian, Gavião, Caparelli e Mirela Faur, Ivan e Maria Estela, Burtiol, Leonídio, Arlindo que foram a coluna dorsal do atendimento à multidão de aflitos. - Mestre Itassoara (Valter Lima e Silva), um dos Mestres no Estado do Espírito Santo. - Mestre Arabayara (Ovídio Carlos Martins), que foi o fiel depositário das disposições testamentárias do Mestre. Obs.
Conheci o Mestre Arabayara pessoalmente e frequentava o seu terreiro, assim como também tive o seu convite para participar da corrente da casa e dicas de como elaboraram e pesquisaram para chegarem a Umbanda Esotérica.
Dona Sallete, a segunda esposa de Matta e Silva que foi "Mãe Pequena" para muitos dos posteriores "filhos" e que emprestou ao Mestre cuidados pessoais, polimento e verniz social. - Mestre Norberto Nadalini, a quem Matta e Silva autorizou, por escrito e com firma reconhecida, em 04 de dezembro de 1987, a fundação de uma "escola sobre os fundamentos da Aumbandam Esotérica", na região de Votuporanga - SP; - Mestre Arapiaga (Francisco F. Rivas), que dá continuidade organizada à obra do Mestre Yapacani com a fundação de uma outra Ordem - a Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino - hoje já congregando diversos templos umbandistas em São Paulo, quiçá, no mundo. Nasceu dentre esses co-irmãos, muitos anos depois, a compreensão de que a 3ª etapa da TUO - Tenda de Umbanda Oriental, embora nunca deixasse de atender aos pobres, aos doentes e aos aflitos, na realidade, foi uma Escola Iniciática que cumpriu sua missão e deu seus frutos na criação, codificação e divulgação dos Ensinamentos da Umbanda Esotérica.
Em 1988, com o passamento repentino de Woodrow Wilson da Matta e Silva, seus últimos herdeiros físicos desfizeram-se da propriedade do terreno do Santuário de Umbanda Esotérica, preservando-se dele apenas o espaço físico do "Congá", por determinação do próprio Matta e Silva. Nada a contestar: eles valeram-se de um direito legal que os assistia. E tenho a tendência em concordar com isso, tendo em vista as palavras anteriores do próprio Matta, em referência à primeira T.U.O., constantes da segunda edição de "Umbanda de Todos Nós": -"Tive ordens de não deixar a direção da Tenda com ninguém. Ninguém podia e nem devia ... e continuo aguardando ordens, é só."-
Assim, por saberem que tal "Congá" ainda estava preservado por seu "Ponto Riscado de Raiz" e defendido por sua "Espada Magística", aqueles seus discípulos que hoje são Mestres de Iniciação também continuram esperando: tudo bem, eles são auto-suficientes. Mas, por outro lado, após anos do passamento do Mestre, preocupa-me os Iwa (Destinos) de meus Irmãos-de-Fé que poderão entrar em desorientação, pois naquele "Congá" não mais poderão militar nenhum dos reconhecidos Mestres de Iniciação formados por Mestre Yapacani, pois, finalmente seus herdeiros desativaram e destruíram tal "relíquia": eles pensam que, assim, desativaram , também, o Vórtice Astral e Espiritual da antiga T.U.O. Pobre daqueles que não preservam suas tradições, mas, talvez que esta tenha sido a última lição de Mestre Yapacani a seus Discípulos: sua vontade de que cada novo Mestre devessse seguir seu próprio caminho, como novas mudas daquela majestosa Árvore de Sabedoria e Compaixão que um dia vicejou nas matas de Itacuruçá. Pois, o que jamais poderá ser desativado são os "lugares sagrados" na Natureza aos quais o Santuário de Umbanda Esotérica estava ligado: as Praias e a Mata Atlântica, aonde estão situadas nossas Cachoeira, Pedreira e Encruzilhada dos Caminhos, cuja localização de difícil acesso é conhecida apenas por poucos Iniciados e sobre as quais, em suas contrapartidas astrais, os reais Mestres de Iniciação continuam a preceituar em benefício de todos aqueles que necessitam das Entidades Espirituais que militavam na TUO. Cremos firmemente que é nesses sítios naturais sagrados é que os Orixás realmente manifestam-se na Terra; o Congá é apenas um lugar temporário de seus pousos entre os humanos.
E foi por ter tido, há muito tempo, a premonição de que esses fatos ocorreriam (eu tive um bom Mestre) que decidi criar meu próprio caminho, fundando a Ordem do Círculo Cruzado, hoje em dia obedecendo apenas ao Astral Superior, através de minha consciência e livre arbítrio, tendo debitada ou creditada esta minha decisão apenas em meu próprio Karma, sem prejudicar a nenhum de meus Irmãos. Por isso mesmo, hoje, relembrando tudo isso, à distância no tempo e no espaço (que me perdoem meus Irmãos Mestres de Raiz ou que assim se dizem), não me surpreende que minhas saudades se voltem muito mais para a figura humana de meu amigo Matta da Silva do que para a sua figura de meu Mestre Yapacani. Surpreende-me, isto sim, o fato de ter sido possível que tanta Luz e Energia Espiritual fluíssem por tanto tempo de um lugar tão pequeno e de um homem tão franzino e que tão pouco de nós as tenhamos bem aproveitado. Sim, "meninos", eu ví, sentí e viví essa Era de Ouro da Umbanda de Todos Nós !!!