sábado, 26 de setembro de 2009

OBSESSÃO-POSSESSÃO


É muito comum ouvir dizer-se que alguém foi possuído espiritualmente. Geralmente descreve-se a possessão espiritual como a entrada de um espírito no corpo de uma pessoa, obrigando-o a fazer coisas que ele não deseja. De tal modo tais episódios existem, que deram origem a um ritual católico: o exorcismo, cujo objectivo seria expulsar o demónio do corpo dessa pessoa.

Entretanto, com o advento do Espiritismo, nas suas componentes científica, filosófica e moral, o assunto ganhou novos dados, e acabou por ser desmistificado.

Se consultarmos «O Livro dos Espíritos» bem como «O Livro dos Médiuns», ambos de Allan Kardec podemos encontrar novos conceitos acerca do assunto.

Com o Espiritismo, através da observação, repetição dos factos e comprovação dos fenómenos, concluiu-se experimentalmente que é possível comunicar com aqueles que já estão no mundo espiritual, isto é, cujos corpos físicos já morreram. Assim, descobriu-se que nas sessões de exorcismo não era o diabo que se comunicava, mas sim, espíritos perturbados que mais não eram do que as almas de pessoas que viveram na Terra e que continuavam em estado de perturbação. Nesse sentido, numa sessão espírita não se expulsa o “diabo” (já que este não existe) mas doutrinam-se aquelas pessoas que por desconhecimento da vida espiritual andam em perturbação nesse mesmo plano.

Os Espíritos interferem positiva ou negativamente na nossa vida, conforme as afinidades que têm connosco

A obsessão espiritual caracteriza-se pela acção de seres espirituais inferiores (em evolução moral) sobre o psiquismo humano.

Allan Kardec distinguiu nas suas pesquisas, três tipos de obsessão: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.

Na obsessão simples, a interferência espiritual atinge a mente causando algumas perturbações. Na fascinação, essa interferência é mais profunda, afectando a consciência da pessoa, desencadeando processos alucinatórios. Na subjugação a interferência amplia-se aos centros da afectividade e da vontade, afectando os sentimentos e o sistema psicomotor, levando o obsidiado (a pessoa que sofre o assédio espiritual) a atitudes e gestos estranhos.

Nesse sentido é errado falar-se em termos de possessão espiritual, já que os espíritos não entram no corpo da pessoa, antes o envolvem procurando intuir ideias que eles querem que a pessoa ponha em prática.

Assim, todos nós, sofremos a influência positiva ou negativa dos espíritos, conforme as nossa afinidades mentais.

A pessoa correcta, que respeita o ser humano, que é digna, entra em sintonia (vibratória) mental com espíritos, isto é, pessoas já falecidas, que também são equilibradas e pensam de igual modo.

Quem sofre de perturbação espiritual deve estudar o assunto e pedir auxílio numa associação espírita idónea

Aquela pessoa cujo objectivo é apenas satisfazer o seu próprio egoísmo, a sua vaidade, o seu orgulho, a sua maldade, essa entra em afinidade mental com seres de igual natureza, seja neste mundo seja no mundo dos espíritos.

Nesse sentido, cada um de nós é senhor do seu destino, colhendo os frutos do seu agir no quotidiano.

Quando a problemática da obsessão espiritual aparece, é fundamental que a pessoa peça auxílio numa associação espírita idónea (onde não se cobre nem se aceite dinheiro pelas suas actividades) para que nas sessões espíritas se possa esclarecer não só o espírito necessitado que está a interferir com a pessoa no corpo de carne, como também que essa mesma pessoa seja esclarecida do processo que está a viver e comece a mudar a sua maneira de agir no sentido de alterar essa situação indesejada: a interferência espiritual.



A obsessão é o maior escolho da mediunidade. Os médiuns precisam estar sempre em guarda contra esse fato incômodo, desagradável. A rigor, a obsessão é sempre um processo bilateral, para cuja realização é preciso ter uma mente que emite e outra que recebe. O obsessor é sempre um Espírito astuto, afeito a caprichos pessoais, e que faz valer, a qualquer custo, sua vontade arbitrariamente, ou, quando não, é um atrasado espiritualmente, que age por ignorância, vinculado por certas afinidades.

O obsessor maldoso procura explorar o ponto fraco da vítima, e esta, de início, aceita o assédio como um processo estimulante, para depois, com o passar do tempo, arrepender-se do incômodo que a escraviza e a faz infeliz.

A obsessão lavra os maiores desastres espirituais no meio das pessoas sensíveis, que registram, com mais clareza, a atuação dos Espíritos, sobretudo, as pessoas comprometidas com um passado faltoso. Esses são os casos mais comuns que. freqüentemente, se vêem nas Casas Espíritas, a desafiarem a Ciência médica, pois somente com tratamento espiritual adequado é possível conseguir apaziguar antigas rixas, antigos desentendimentos.

Por isso, só o amor puro e o esclarecimento da Doutrina Espírita se tornam o antídoto mais poderoso para a cura definitiva, pois o resto são paliativos aleatórios.

Desta feita, os médiuns precisam estar sempre vigilantes, sempre atentos ao bem que fizerem; precisam imunizar, se contra o orgulho e a vaidade; se precatar contra os maus pensamentos; policiar a língua contra o vírus da maledicência e, numa arrancada de luz, direcionar a vontade na conquista dos patrimônios elevados do amor e da paz íntima, que se constituem na tão desejada felicidade.

A obsessão, portanto, é quase sempre decorrente de uma imperfeição moral, que permite a associação de idéias entre o obsessor e o obsediado, em conseqüência da Lei de Causa e Efeito. Dizem os Espíritos que Deus permite a ação obsessiva, para pôr o homem à prova da paciência, da perseverança, do aprendizado, do respeito ao próximo e da fé na Divina Providência.

De modo geral, na obsessão, os maus, pela Lei de Afinidade, apegam,se àqueles a quem têm acesso, por uma atração perispiritual muito forte e, quando chegam a dominar, impõem suas idéias, gostos e preferências. Pode,se afirmar que o problema da obsessão é uma questão de atitudes mutuamente assumidas, pela similitude de pensamentos, pelas crenças, pelos sentimentos, pelas emoções e pelas diferentes tendências para reagir.

Este predomínio de um Espírito sobre certa pessoa apresenta-se em diferentes graus de intensidade; daí, a sua classificação em obsessão simples, fascinação, subjugação e possessão.

Na obsessão simples o obsediado tem consciência da interferência de um Espírito adverso ou enganador, e este, por sua vez, não se disfarça, não esconde suas intenções e desejos. Cumpre, todavia, esclarecer que "ninguém está obsediado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso, pois, o melhor médium está sujeito a isso, sobretudo, no início, quando ainda lhe falta a experiência necessária A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito para impor sua vontade, da qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua" (LM, 2.a Parte, cap. XXIII, item 238). Na obsessão simples, o obsediado nem percebe a influência, porque se compraz no pensamento do outro.

Na fascinação o médium se encontra totalmente iludido e, muitas vezes, se afasta de pessoas que lhe poderiam dar conselhos úteis. Não percebe a atuação dos maus Espíritos; no dizer de Kardec (LM, 2.a Parte, cap. XXIII, item 239), "está submetido a uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium, que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações".

Na subjugação a influência do Espírito pode ser moral ou corporal, paralisando a vontade da vítima, que age sob um verdadeiro jugo. "No primeiro caso, o subjugado é levado a tomar decisões freqüentemente absurdas e comprometedoras, que, por uma espécie de ilusão, considera sensatas: é uma espécie de fascinação. No segundo, o Espírito age sobre os órgãos materiais, provocando movimentos involuntários", levando-o, por vezes, a praticar atos ridículos (LM, 2.a Parte, cap. XXIII, item 240).

O Espírito que subjuga penetra o perispírito da pessoa sobre a qual quer agir. O Perispírito do obsedado recebe como que um envoltório, o corpo fluídico do Espírito estranho, e, por esse meio, é atingido em todo o seu ser; o corpo material experimenta a pressão sobre ele exercida de maneira indireta.

A possessão, diz Kardec (LM, 2.a Parte, cap. XXIII, item 241) é um termo usado por aqueles que acreditam nas penas eternas, quer dizer: "em seres criados perpetuamente voltados para o mal", o que a Doutrina dos Espíritos não admite.

Um segundo motivo para Kardec não ter adotado o term~ possessão, no
Todavia, em "A Gênese", cap. XIV; itens 45 a 49, Kardec admite o termo possessão e o utiliza como forma de ação de um Espírito sobre o encarnado, distinguindo-a da subjugação.

Diz: "Na obsessão, o Espírito atua exteriormente por meio de seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado; este último se encontra então enlaçado como numa teia e constrangido a agir contra sua vontade.

Na possessão, em lugar de agir exteriormente, o Espírito livre se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; faz domicílio em seu corpo, sem que todavia este o deixe definitivamente, o que só ocorre com a morte. A possessão é assim sempre temporária e intermitente, pois um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, dado que a união molecular do perispírito e do corpo não pode se operar se senão no momento da concepção"(GE, cap. XIV item 47).

Complementa Kardec, mostrando a diferença entre obsessão e possessão, dizendo que o "Espírito, em possessão momentânea do corpo, dele se serve como o faria com o seu próprio; fala por sua boca, enxerga pelos seus olhos, age com seus braços, como o teria feito se fosse vivo. Já não é mais como na mediunidade falante, na qual o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento de um Espírito desencarnado; é este último, mesmo, que fala, que se agita, e se o conhecemos quando vivo, reconheceríamos sua linguagem, sua voz, seus gestos e até a expressão de sua fisionomia" (GE, cap. XIV; item 47).

Esta modificação no pensamento de Kardec, depois de ter escrito "O Livro dos Médiuns", provavelmente ocorreu quando se deparou com o caso de Mde. Julie, referido no livro "A Obsessão," publicado em 1950, edição belga, relativo a compilações das anotações de Kardec.

Aí se lê: "Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado".

Em síntese, pode-se dizer que na obsessão o Espírito atua exteriormente por meio de seu perispírito, e na possessão faz domicílio no corpo do encarnado, que cede seu corpo voluntariamente, como no caso da senhorita Julie, ou, involuntariamente, quando o possessor é um Espírito mau, ao qual o possesso não tem força moral para resistir.

Tanto na obsessão como na possessão, dizem os Espíritos, essa dominação não se efetua jamais sem a participação daquele que sofre, seja por fraqueza, seja pelo seu desejo. Dizem: "Freqüentemente, se têm tomado por possessos criaturas epiléticas ou loucas, que mais necessitam de médico do que de exorcismo.


Em Lucas, cap. 6:35, Jesus recomenda que se devem amar os inimigos; no entanto, infelizmente, trata-se de uma recomendação de pouca penetração no mundo, requerendo, por isso, uma análise mais profunda.

Recomendando amar os inimigos, Jesus não exigiu aplausos ao que rouba, ao que destrói, ao que seqüestra, ao que espolia ou pratica toda a sorte de maldades, nem preceituou que se deva multiplicar a perversidade ou a má-fé.

Em Mateus, cap. 5:43 a 45, depara-se com as seguintes palavras do Mestre, no tocante a essa momentosa questão:

"Ouvistes o que foi dito aos antigos: Amareis ao vosso próximo e odiareis aos vossos inimigos. E eu vos digo: Amai vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e caluniam, a fim de que sejais filhos de vosso Pai, que está nos Céus, o qual faz brilhar o sol sobre os bons e os maus e faz chover sobre os justos e os injustos".

Amar os inimigos não é, pois, ter por eles uma afeição que não é natural, uma vez que o contato de um desafeto faz bater o coração de modo diverso ao do encontro com um amigo. Mas, é não alimentar contra eles ódio, nem rancor, ou desejo de vingança; é perdoá-los incondicionalmente pelo mal que fizeram, sem opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem e não o mal. É alegrar-se em lugar de se aborrecer com o bem que os atinge.

Certa vez, Jesus tomou conhecimento da existência de um possesso na região dos Gadarenos, e para lá se dirigiu. O atormentado vivia no cemitério, dormia dentro dos túmulos, todo machucado por andar no meio dos espinheiros e dos pedregais.

Quando o possesso o viu, prostrou, se de joelhos e disse:

"Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro,te, por Deus, não me atormentes" (Mc 5:6,7). O Mestre se limitou a perguntar o seu nome; ele respondeu: "Legião, porque somos muitos".

O possesso que havia sido acorrentado, sido preso com grilhões, mas a tudo fazia em pedaços, ficou calmo, e Jesus ordenou aos Espíritos que saíssem, libertando o pobre homem daquele pernicioso domínio.

É evidente que os Espíritos que assediavam aquele homem, ao verem Jesus consideraram-no como autêntico inimigo, mas o Mestre, como dispenseiro da paz e do bem, qual um amigo celeste, resolveu pôr um paradeiro naquele drama, livrando o homem daquela influenciação nefasta, e possibilitando aos Espíritos obsessores tomarem um rumo diferente em suas vidas, conscientizando-os de que Deus é Pai de amor e bondade.

Essa passagem do Evangelho propicia um ensinamento de relevante alcance. À frente dos Espíritos delinqüentes, perturbadores, Jesus era apenas um: o interlocutor. No entanto, os Espíritos formavam uma legião, representando maioria esmagadora, personificando a massa vastíssima das intenções inferiores e criminosas. Daí, tira,se o ensino de que por indeterminado tempo, o bem estaria em proporção diminuta no mundo, comparado ao mal, que prevalece em torrentes arrasadoras.

Jesus Cristo teve vários desafetos, quando do desempeenho do seu Sublime Messiado: os Escribas, os Fariseus, os Saduceus e os Sacerdotes do Templo, todos se mancomunaram contra ele, fazendo com que fosse crucificado. O Mestre, no entanto, jamais os considerou como inimigos, tanto que na cruz suplicou ao Pai Celestial que os perdoasse, porque eles não sabiam o que estavam fazendo (Lc 23:34).

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